quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fugindo Para o Deserto

O álbum de 2005 "Lullabies to Paralyze", do Queens of the Stone Age pode não ser considerado o melhor deles - ainda havia no ar a merecida euforia e a poeira do anterior "Songs for the Deaf", aquele com o Dave Grohl na bateria -, mas com certeza merece uma cuidadosa atenção. Menos hard rock e menos pesado que o "Songs...", o Lullabies me parece mais lisérgico, mais de garagem... enfim, um lado diferente do som dos caras, ainda que mantendo suas características marcantes.

Eu sempre começo pela faixa bônus. Pode parecer estranho, mas não é. A fumaçenta música Like a Drug. Para mim ela é a entrada, a parte de um todo, as preliminares, apesar de ser bônus. Parte importantíssima, já que é esta música que montaria o cenário para todas as outras seguintes. Posso imaginar ela sendo tocada em algum boteco no meio do deserto com alguns mexicanos e muito calor e moscas... ritmo totalmente retrô e gravação aconchegantemente imperfeita, vocal impecável do Josh Homme...

Pintado o cenário, a primeira faixa "Untitled Lullaby"cai muito melhor do que se escutada isoladamente. Um efeito muito presente nas gravações do QotSA é uma segunda voz sussurrando junto com a principal. Na voz de Mark Lanegan, é uma canção calminha e simples (me lembra Johnny cash), notas familiares. Boa canção para dar aquela forrada para as seguintes.

Medication, Everybody Knows That You're Insane... faixas divertidas, com aqueles graves tipicamente "queens-of-the-stone-ageanos". Devo admitir que sinto falta do estilão do Nick Olivieri (ex-baixista, que saiu da banda pouco antes das gravações do disco), mais por motivos afetivos que por efeitos negativos ao álbum, eu confesso.


Adoro o teclado da Tangled Up And Plaid, o jeito como ele aparece nas horas certas!

Burn The Wich . Os versos rígidos de Lanegan, quase que como um diálogo, a batida quadrada e exata. Em contraposição, o refrão melódico de Homme, bateria meio psicodélica, as vozes no fundo... "bite your tonge, swear to keep your mouth shut". Me faz ficar tonta, no bom sentido.

Faixas pesadas mas melódicas, vocais distantes e com ecos (meio anos 70) e guitarras incisivas no meio dos tradicionais graves, dando um efeito de movimento.

E tem a Broken Box, claro! Com sua pegada linear e mais seca que as outras, porém não menos divertida.

Não quero impor minhas impressões das faixas, mas fazer o que.... Vou parar na Blood is Love, que a princípio seria uma faixa muito boa, porém repetitiva a não ser pela bateria, que a torna ótima e com várias nuances. Que inveja, eu queria ser dessa banda.


Gosto muito da atmosfera transmitida por este álbum... tantos detalhes pra prestar atenção, sussurros escuros, sobreposições instrumentais muito muito interessantes, não só tecnicamente, mas também criativamente. É um álbum muito, muito bem feito.






Enfim, trata-se uma sonoridade bem característica que se espera do Queens e se faz presente em praticamente todo o trabalho dos caras: a melodia com os graves e o peso do hard rock dos anos 70, o deserto, a safadesa, as substâncias químicas e a incrível seriedade musical. Foda.


link do disco para baixar aqui

Tracklist:

01. This Lullaby
02. Medication
03. Everybody Knows That You Are Insane
04. Tangled Up In Plaid
05. Burn The Witch
06. In My Head
07. Little Sister
08. I Never Came
09. Someone's In The Wolf
10. The Blood Is Love
11. Skin On Skin
12. Broken Box
13. You Got A Killer Scene There, Man
14. Long Slow Goodbye
15. (Hidden Finale)
16. Like a Drug

VIDE:

Quem toca o que em cada faixa.

desert rock

domingo, 16 de agosto de 2009

Baby Huey, o "Tim Maia Turbinado"

Eu nunca fui um especialista em soul music, não por desgostar... Mais por não conhecer mesmo. Na verdade, acho que muito pouca gente conhece Baby Huey. Eu fiquei conhecendo numa feira de discos de vinil na Paulista, quando comprei um disco dos Beatles e o vendedor começou a falar frenéticamente... Sobre vários assuntos diferentes, até que uns 40 minutos depois ele falou sobre um cantor soul quase desconhecido, que ele apelidou de “Tim Maia turbinado”. Eu fiquei super interessado em ouvir, mas esqueci o nome do cara e por isso não baixei nada.

Alguns meses depois eu fui à Galeria Nova Barão... Comprar disco novamente, e mesmo sem saber como era a cara do tal “Tim Maia Turbinado” eu vi o disco na prateleira e conheci o cara. FOI MAGICO! A voz, o baixo, os metais... Babe Huey é a definição do soul pra mim. Não deu outra... comprei o disco.

Depois eu pesquisei melhor sobre o assunto e descobri que a banda se chamava Babe Huey & The Babysitters, que inclusive contava com a ainda jovem Chaka Khan. Baby Huey (que na verdade se chamava James Ramey) morreu em 1970 aos 26 anos devido a problemas com excesso de peso e ao uso de heroína. O disco saiu um ano depois da sua morte, em 71 e o titulo não poderia ser mais adequado “The Living Legend”.






Músicas que eu recomendo:
Change Is Going To Come
Hard Times

Link para o disco aqui!
senha: wegotheads

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cat Power ao vivo



São Paulo, 18 de Julho de 2009, 21:50

Pessoas estilosas, bem vestidas e outras nem tanto. Mas isso é questão de gosto que eu adoro discutir.
De repente, um senhor de cabelos bagunçados tomando chá que, por alguma razão, parecia destoar mesmo em meio à grande variedade de aparências e estilos que tanto me entreteram e inspiraram (sim, inspiraram) durante os minutos anteriores ao show.

Após a entrada com uma aconchegante versão de”The House of the Rising Sun”, do Animals, um pequeno “oi” foi suficiente para ganhar a simpatia do público pelo resto na noite fria porém muito calorosa e aguardada por muitos, inclusive eu .

A banda - The Dirty Delta Blues - é formada por músicos com sensibilidade suficiente para realçar os vocais cada vez mais roucos e poderosos de Chan Marshal na medida em que os permitia fluir livremente ao longo das canções carregadas de influências no jazz e soul com cara de Nova Iorque e bares mau iluminados. Má iluminação aliás presente ao longo do show, colaborando para o clima intimista da apresentação em que nem mesmo os telões foram utilizados, a pedido da produção.

Entre os componentes, a banda contava com um tecladista que em uma canção (Makin' Belive, uma versão para a singela canção country de 1954) se levantou para tocar tamborim enquanto dançava estilosamente com seu visual meio anos 70 e um baterista que tratava-se do senhor destoante do chá de alguns minutos antes.

Foi um show basicamente sem defeitos. Claro que quem esperava pelas velhas canções do começo da carreira de Cat Power se decepcionou, já que o repertório ficou focado nos últimos álbuns. A tradicional “I Don't Blame You”, suposta “música sobre o Kurt Cobain” foi tocada, porém em sua nova forma muito mais jazzística com aquele charme do blues, traduzindo a sonoridade da presente fase da carreira da cantora.

Tal fase, na minha opinião, muito mais madura musicalmente e Chan Marshal - cada vez mais bonita, diga-se de passagem - parece estar mais livre e completa nos vocais. Claro que isso se deve ao fato de que ela se dedica inteiramente a eles, agora que não divide sua dedicação tocando algum instrumento enquanto canta. E a escolha da banda certa ajudou bastante. Creio que teria gostado mais do álbum "The Greatest" se suas canções tivessem sido gravadas como estão sendo tocadas ao vivo. Nas palavras do tecladista, Gregg Foreman, em uma entrevista não tão recente, afirma que a banda do disco Greatest soava muito adulta, como uma apresentação no jantar, mas com esta banda Chan fica "elétrica".

O generoso bis contou com a fofíssima Sea Of Love, e aquela que ela canta em espanhol, entre outras. Não tenho o costume de usar a palavra fofíssima... mas enfim...
muito simpática e até parecendo meio tímida, Chan jogou flores brancas para a privilegiada (tom de amargura) platéia VIP, á la Roberto Carlos. também distribuiu autógrafos e setlists.
Gostei do show, quero mais.


segue o download do disco Jukebox aqui.